O Mito de Orpheu

Orfeu nasceu nas vizinhanças do Olimpo, freqüentado pelas musas. Ele era excelente poeta, cantor e músico, sendo considerado o inventor da cítata. Passava o dia cantando ao som de sua lira, a qual aumentou de sete para nove cordas. Orfeu participou da expedição dos Argonautas apenas marcando a cadência dos remadores. Durante as tormentas ele abrandava as vagas e tranqüilizava a tripulação com seu canto. E, quando as sereias começavam a cantar, Orfeu entoava cantos mais agradáveis que o delas, livrando os remadores do fascínio.

Orfeu era apaixonado por Eurídice, filha de Apolo. Os dois se apaixonam de um modo total, um amor tão forte que precisou ser selado com uma união definitiva e imortal, um casamento. O deus Himeneu, protetor das núpcias, foi convidado para abençoar a união, mas durante a cerimônia sua tocha fumegou sinal de mau agouro. Ele pressente que uma tragédia recairá sobre os noivos, uma angústia de que a felicidade dos amantes durará pouco. Não suportando mais permanecer no local com suas tristes suspeitas, ele decide ir, mas Orfeu pede que ele fique o que ele faz, mesmo sentindo a dor da separação do casal. A festa termina, e Eurídice, acompanhada de suas amigas ninfas, comemora e dança de felicidade nos campos próximos ao rio Pineios, na Tessália. Orfeu a aguarda no leito para consumar a união com o ato sexual, mais puro e íntimo símbolo de amor e unidade. O casamento, aqui, simboliza a integração entre os princípios masculinos e femininos, a relação mais poderosa e representativa para Escorpião, que deseja mais do que tudo o contato profundo com o Outro.

Entretanto, os maus presságios de Himeneu se cumprem. O apicultor Aristeu passava por ali e, vendo-a banhar-se no rio completamente nua, sente um desejo violento de possuí-la. Ele a persegue, e Eurídice corre rapidamente pra fugir de sua investida. Ela tropeça e cai em um fosso cheio de serpentes venenosas. E em poucos instantes morre. Sua alma desce silenciosamente aos subterrâneos dos Infernos, reino de Hades e Perséfone, residência final de todos os mortos. Na escuridão do Tártaro, ela chora a perda do amado. Orfeu, descobrindo seu corpo, fica desesperado de dor, tenta acordá-la, beija-lhe os lábios frios, canta suas doces melodias, mas nada trará Eurídice de volta. As ninfas companheiras da bela noiva vingam-se de Aristeu matando todas suas abelhas.

Orfeu julgou que devia procurá-la mesmo entre os mortos. Tomou sua lira e desceu ao inferno. Orfeu desesperado e sem conseguir viver longe de sua amada, decidiu ir até o reino de Hades, na esperança de reavê-la. Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira, foi até o Mundo dos Mortos, para tentar trazê-la de volta.

Com sua música suave, encantou de tal forma o mundo ctônio, que até mesmo a roda de Ixion parou de girar, o rochedo de Sísifo deixou de oscilar, Tântalo esqueceu a fome e a sede, as Danaides descançaram de sua labuta eterna de encher tonéis sem fundo. Orfeu conseguiu persuadir Caronte, o barqueiro, a conduzí-lo até o portal dos infernos. Fez com que o feroz Cérbero o cão de três cabeças se acalmasse; as Fúrias se aquietassem e as Moiras parassem de tecer os fios da vida, e todos os deuses e divindades das profundezas se comoveram diante de seu sofrimento e verdadeira prova de amor.

Finalmente, o herói chega ao imponente trono de escuridão dos Imperadores dos mortos, Hades e Perséfone. O deus imediatamente irrita-se ao ver uma criatura viva em seus domínios, e ordena-lhe uma explicação. Orfeu lhe responde com uma canção, acompanhado de sua lira:

“Ó divindades do mundo inferior, para o qual todos nós que vivemos teremos que vir, ouvi minhas palavras, pois são verdadeiras. Não venho para espionar os segredos do Tártaro, nem para tentar experimentar minha força contra o cão de três cabeças que guarda a entrada. Venho à procura de minha esposa, a cuja mocidade o dente de uma venenosa víbora pôs fim prematuro. O Amor aqui me trouxe o Amor, um deus todo-poderoso entre nós, que mora na Terra e, se as velhas tradições dizem a verdade, também mora aqui. Imploro-vos: uni de novo os fios da vida de Eurídice. Nós todos somos destinados a vós, por essas abóbadas cheias de terror, por estes reinos de silêncio, e, mais cedo ou mais tarde, passaremos ao vosso domínio. Também ela, quando tiver cumprido o termo de sua vida, será devidamente vossa. Até então, porém, deixai-a comigo, eu vos imploro. Se recusardes, não poderei voltar sozinho; triunfareis com a morte de nós dois.”

Hades, num gesto de generosidade, consentiu que Orfeu levasse Eurídice de volta a terra, mas impôs uma condição: houvesse o que houvesse, ele não poderia olhar para trás, sob pena de perdê-la. Assim, Hades atendeu seu desejo. Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos. Mas com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol. Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Quando estavam quase chegando, uma dúvida terrível lhe cruzou o espírito: e se o deus dos infernos o tivesse enganado? E se a mulher que o seguia não fosse sua Eurídice?

Mas então se virou, para se certificar de que Eurídice o estava seguindo. Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de novo um fino fantasma (ou em outras versões uma estátua de sal), seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Orfeu ainda tentou voltar, mas, o barqueiro não permitiu, ele a havia perdido para sempre.

Em desespero total, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo lembrar-se da perda de sua amada. Posteriormente deu origem ao Orfismo, uma espécie de serviço de aconselhamento; ele ajudava muito os outros com seus conselhos , mas não conseguia resolver seus próprios problemas.

Inconsolável pela perda da esposa Orfeu passou a repelir todas as mulheres. Mergulhado na dor novamente, Orfeu optou por uma vida de pregações, tornando-se um guia espiritual que alertava os trácios sobre os malefícios que os sacrifícios poderiam trazer aos homens. Naquele momento, Dionísio, enciumado pela fama de Orfeu, que começava a ser adorado como uma divindade amaldiçoou-o, fazendo com que as Menades enlouquecidas o matassem, cortando-o em pedaços.

Chorando, as nove Musas, condoídas com a sorte de Orfeu, reuniram seus pedaços e os enterraram no monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu à sua amada Eurídice. Orfeu é a imagem do ferido que cura aquela pessoa que por sua bondade e compaixão consegue curar os outros e que, no entanto, não consegue jamais curar as feridas do próprio coração.
Quanto às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhes concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos se espicharem e entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. Suas pernas se tornaram madeira pesada, e também seus corpos, até que elas se transformaram em carvalhos silenciosos. E assim permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu, até que por fim seus troncos mortos e vazios caíram ao chão.

Algumas interpretações deste mito, dizem que as pessoas que se dedicam a ajudar os outros, (Psicologia, psiquiatria, assistente social e até mesmo aqueles que fazem muita caridade), são pessoas que reconhecem que sofrem ou sofreram algum problema grave e agora buscam estas áreas tentando evitar que os outros, sofram o que eles sofreram, ou seja, é aquele que cura mas que não consegue se auto curar. Dizem ainda que no fundo essas pessoas estão se auto enganando, pois evitar que os outros sofram, não vai apagar o que eles mesmos sofreram.

* AS MUSAS
As Musas, filhas de Júpiter e Mnemósine (Memória), eram as deusas do canto e da memória. Em número de nove, tinham as musas a seu encargo, cada uma separadamente, um ramo especial da literatura, da ciência e das artes. Calíope era a musa da poesia épica, Clio, da história, Euterpe, da poesia lírica, Melpômene, da tragédia, Terpsícore, da dança e do canto, Erato, da poesia erótica, Polímnia, da poesia sacra, Urânia, da astronomia e Talia, da comédia.

Calíope ~ Eloqüência
Significado do nome: "Formoso rosto".

Clio ~ História
Significado do nome "Proclamadora"

Erato ~ Poesia erótica
Significado do nome: "Adorável"

Euterpe ~ Música
Significado do nome : "Delícia"
Melpômene ~ Tragédia
Significado do nome: "Coro"
Polímnia ~ Poesia lírica
Significado do nome: "Muitas canções"
Terpsícore ~ Dança
Significado do nome: "Delícia de dançar"

Talia ~ Comédia
Significado do nome: "Festividade"

Urânia ~ Astronomia
Significado do nome: "Rainha das montanhas"

* MÊNADES
Na mitologia grega, as Ménades, ou Mênades, (de mainomai, "enfurecido"), também conhecidas como bacantes, tíades ou bassáridas, eram mulheres seguidoras e adoradoras do culto de Dioniso (ou Baco). Eram conhecidas como selvagens e endoidecidas, de quem não se conseguia um raciocínio claro. Durante o culto, dançavam de uma maneira muito livre e lasciva, em total concordância com as forças mais primitivas da natureza. Os mistérios que envolviam o deus provocavam nelas um estado de êxtase absoluto...O culto das bacantes são cortejos orgiásticos de mulheres que, num transe coletivo, dançando, cantando e tocando tamborins em honra a Dioniso, invadiram a Grécia para impor a adoração de seu deus, e fazer com que este fosse reconhecido e adorado... Normalmente são representadas nuas ou vestidas somente com peles de veado, grinaldas de hera e empunhando um tirso (bastão envolto em ramos de videira).
Fonte: O livro de ouro da mitologia, de Thomas Bulfinch

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