Etimologia
A palavra "autômato" é uma
latinização da palavra grega αὐτόματον, autômato, significando
"agindo pela vontade própria". É mais comumente descrito como
máquinas que se movem sem a ajuda de eletricidade,
especialmente aquelas que realizam ações que lembram humanos ou animais, como é
o caso do cuco de um relógio de parede.
Autômatos
na antiguidade
Os autômatos na era helenística foram projetados inicialmente para
servir como brinquedos, ícones religiosos ou como ferramentas para demonstrar
princípios científicos, incluindo alguns descritos pelo matemático grego Heron de Alexandria. Quando seus estudos sobre hidráulica, pneumática e mecânica
foram traduzidos para latim no século XVI, estudiosos começaram a
reconstruir seus autômatos, aí estão inclusas invenções como o sifão,
o carro de bombeiro e a eolípila. É sabido que objetos mecânicos
complexos existiram na Grécia antiga,
apesar de que o único exemplo que se tem do tipo é a máquina de Anticítera. Inicialmente,
acreditava-se que tal máquina vinha de Rhodes, onde havia
uma forte tradição para a engenharia mecânica, já que a ilha é
reconhecida pelos seus autômatos. Porém, estudos recentes dos fragmentos do
mecanismo mostraram que a máquina pode ter vido de Corinto,
na Sicília e sugere uma conexão com Arquimedes.
Existem ainda exemplos de mitos que tentam
explicar sua origem. Daedalus se utilizou de mercúrio para
dar voz aos seus autômatos. Hefesto criou um autômato para sua oficina: Talos, um homem artificial
feito de bronze, e, de acordo com Hesíodo,
a mulher Pandora.
De acordo com a lenda Judaica, Salomão utilizou sua sabedoria para desenhar
um trono com animais mecânicos que deveriam referencia-lo como rei enquanto ele
subia ao mesmo. Ao sentar-se, uma águia deveria pôr a coroa em sua cabeça e um
pombo traria uma escritura do Torá à suas mãos. Além disso, quando o rei
Salomão começasse a subir no trono, um mecanismo seria ativado. Assim que ele
desse o primeiro passo, um búfalo e um leão dourados estenderiam cada um uma
pata para que ajudá-lo a erguer-se e tomar o próximo passo. Em cada lado, os
animais ajudariam o rei até que ele estivesse sentado confortavelmente no
trono.
Na china antiga,
um relato curioso de um autômato é descrito nos textos Liezi, escritos no século 3 a .C. Existe uma descrição de
um encontro ocorrido muito antes entre o rei Mu de Zhou (1023 – 957 a .C.) e um engenheiro
mecânico conhecido como Yan Shi, um "artífice", ou artesão. Este
último presenteou o rei com uma figura em forma de humano de tamanho real,
feita por ele mesmo:
O rei observou a figura deslumbrado. Ela se
mexia a passos rápidos, movendo sua cabeça para cima e para baixo, fazendo com
que todos a confundissem com um ser humano real. O artífice tocou seu queixo, e
a figura então começou a cantar de maneira perfeita. Ele tocou sua mão, e a
máquina começou a posar, mantendo um ritmo perfeito entre as duas tarefas.
Quando a apresentação estava próxima ao fim, o robô piscou seu olho e flertou
com as moças da plateia. Neste momento, o rei indignou-se e teria executado Yen
Shin imediatamente, se este, em medo mortal, não tivesse instantaneamente
desmontado o robô para mostrar o que ele realmente era. A máquina mostrou não
ser nada além de uma junção de couro, madeira, cola e laquê, colorido em azul,
vermelho branco e preto. Examinando em detalhes, o rei achou órgãos internos
completos, fígado, coração, rins, pulmões, estômago e intestinos e ao redor
destes, músculos, ossos e membros com suas articulações, dentes, pele e cabelo,
todos artificiais. O rei então retirou o coração e viu que a boca não podia
mais falar; retirou o fígado e viu que os olhos não podiam mais ver; retirou nos
rins e viu que as pernas já não mais se locomoviam. O rei, assim, ficou
encantado.
Outros exemplos de autômatos incluem a
pomba de Arquitas de Tarento, mencionada por Aulo Gélio.
Relatos chineses similares de autômatos com capacidade de voar foram escritos
no século V a.C. pelo filósofo moísta Mozi e
seu contemporâneo Lu Ban,
o qual projetou pássaros de madeira (ma yuan) artificiais que podiam
efetivamente voar, de acordo com o Han
Fei Zi e outros textos.
Autômatos
medievais
Na metade do século VIII, o primeiro
autômato movido a vento foi construído: "Estátuas que se
moviam sobre as abóbadas dos quatro portões e do palácio da cidade redonda de Bagdad".
"O espetáculo ao público realizado pelas estátuas tinha sua contraparte exclusiva
aos nobres nos palácios de Abássida,
onde autômatos de vários tipos eram predominantemente mostrados." Também no século VIII, o alquimista
muçulmano Jābir ibn Hayyān (Geber), incluiu fórmulas para
construção de cobras, escorpiões e humanos, os quais
seriam inteiramente controlados pelos seus criadores como descrito no seu Livro das Pedras. Em 827, o califa Al-Ma’mun possuía uma árvores de prata e outra de
ouro no seu palácio em Bagdad, as quais
possuíam características de autômatos. Existiam pássaros de metal que cantavam
automaticamente nos galhos móveis das árvores construídas por inventores
muçulmanos e engenheiros. O califa Abássido Al-Muqtadir também possuía uma árvore de ouro em
seu palácio em Bagdad em 915.
A árvore possuía pássaros que batiam suas asas e
cantavam. No século IX, os irmãos Banū Mūsā inventaram um toca flautas automático programável e o descreveram
no seu Livro de
Dispositivos Engenhosos.
Al-Jazari descreveu autômatos humanoides complexos programáveis, além de outras
maquinas desenhadas e construídas por ele no seu "Livro do Conhecimento de
Dispositivos Mecânicos Engenhosos" em 1206. Um de seus autômatos era um
barco com quatro músicos automáticos que se apresentavam aos convidados em
festas da realeza. O mecanismo possuía uma caixa de ritmos
programável que trabalhavam em conjunto com pequenas alavancas para realizarem a percussão.
Movendo-se os de lugar, era possível atingir ritmos e padrões de música
diferentes. De acordo com Charles
B. Fowler, os autômatos eram essencialmente uma "banda robô" que demonstravam mais de
cinquenta movimentos de corpo e face diferentes durante cada seleção musical.
Al-Jazari construiu também um autômato que
auxiliava na lavagem das mãos,
demonstrando pela primeira vez o mecanismo de descarga utilizado hoje em vasos sanitários modernos. O autômato era uma figura feminina
a qual permanecia perto de uma pia cheia de água. Quando o usuário puxava
uma alavanca, a água era drenada e então o autômato enchia a pia novamente. Outro de seus dispositivos com este
mesmo fim era a “fonte pavão”, um sistema mais sofisticado que utilizava
autômatos humanoides como serventes que ofereciam sabão e toalhas. Mark
E. Rosheim fez a seguinte descrição: "Quando se puxava um ligamento na
cauda do pavão, a água era liberada através do bico; enquanto a água suja
utilizada enchia a pia, um pequeno barco subia flutuando e ativava um acoplamento o qual fazia uma figura de um servente
aparecer por detrás de uma porta atrás do pavão e oferecer sabão. Enquanto mais
água era utilizada, um segundo barco em um nível mais elevado girava e então
aparecia um segundo servente o qual oferecia uma toalha!"" Al-Jazari foi assim o primeiro
inventor a se utilizar de máquinas com figuras humanoides para realizar tarefas
práticas como manipular o ambiente a fim de trazer conforto aos humanos.
Em seu rascunho datado de 1230, Villard de Honnecourt demonstrou planos para autômatos em
forma de animais e para um anjo que movia sua cabeça sempre em direção ao sol.
Ao fim do século XIII, Roberto II de Artois construiu um jardim dos prazeres no
seu castelo em Hesdin que possuíam autômatos os quais divertiam as pessoas. Os
trabalhos foram realizados por construtores locais e gerenciados pelo cavaleiro
italiano Renaud Coignet. Os dispositivos eram macacos marionetes, relógios de
sol erguidos sobre leões e “homens selvagens”, pássaros e fontes mecânicas e
órgãos operados a foles. O parque ficou famoso pelos seus autômatos através de
boa parte do século XV, até ser destruído por soldados ingleses no século XVI.
O autor chinês Xiao Xin escreveu que quando
o fundador da dinastia Ming, Hongwu (1368-1398) estava destruindo os
palácios de Khanbaliq,
os quais pertenciam a dinastia anterior, a Yuan,
entre muitos outros mecanismos mecânicos, foram achados autômatos em formato de
tigre.
Renascença
e início da era moderna
A época da Renascença viu um aumento considerável de
interesse nos autômatos. As pesquisas de Heron foram traduzidas e editadas para
o latim e italiano. O engenheiro italiano Giovanni Fontana criou autômatos em formato de demônios
mecânicos e animas com propulsão a foguete. Muitos autômatos de relógio foram
construídos no século XVI, principalmente por ourives das cidades imperiais livres da Europa central. Estes autômatos
acabaram sendo guardados no gabinete de curiosidades, ou Wunderkammern, das cortes reais
da Europa. Autômatos hidráulicos e pneumáticos, similares àqueles descritos por
Heron, foram criados para grutas de jardim.
Leonardo da Vinci desenhou autômatos mais complexos por
volta do ano de 1495. O design de seu robô não foi descoberto até os anos 50. O
robô tinha a habilidade de, se construído corretamente, mover seus braços,
girar sua cabeça e se erguer.
O Instituto Smithsoniano possui em seu acervo um Monge-relógio
com em torno de 380mm de altura que é possivelmente datado de antes de 1560. O
monge é movido por uma mola e se mexe por um caminho em formato de quadrado,
batendo em seu peito com o braço direito, enquanto levanta e se desce uma
pequena cruz e um rosário na sua mão esquerda, mexendo sua cabeça, rolando seus
olhos e falando rituais. De tempos em tempos, ele leva a cruz ao seus lábios e
a beija. Acredita-se que o monge foi construído por Juanelo Turriano,
um mecânico para o Imperador do Sacro Império Romano, Carlos I.
Uma nova percepção em relação a autômatos
foi tomada por Descartes quando ele sugeriu que o corpo de
animais não seriam nada além de máquinas complexas – os ossos, músculos e
órgãos poderiam ser substituídos por engrenagens, pistões e cames. Assim, a
mecânica se tornou padrão de comparação em relação a natureza e ao organismo
vivo. A França do século XVII foi o berço de
brinquedos mecânicos que viriam a se tornar protótipos para as máquinas da revolução industrial. Assim, em 1649, quando Luís XIV ainda
era uma criança, um artesão chamado Camus construiu para ele uma carruagem em
miniatura, com cavalos, soldados, um escudeiro e uma dama dentro da carruagem.
Todo o mecanismo funcionava com movimentos perfeitos. De acordo com P. Labat,
General de Genes construiu em 1688, em adição a máquinas de guerra e navegação,
um pavão que andava e comia. Athanasius Kircher construiu muitos autômatos para shows
jesuítas, entre os quais uma estátua que falava e ouvia através de um tubo acústico.
É considerado que o primeiro autômato
biomecânico do mundo é o The
Flute Player (o toca
flautas), inventado pelo engenheiro francês Jacques de Vaucanson em 1737. Ele também construiu o Digesting Duck (pato digestor), um pato
mecânico que dava a falsa impressão de comer e defecar, fortificando a ideia de
que animais nada mais eram que máquinas feitas de carne.
Em 1769, uma máquina que jogava xadrez
chamada de O Turco,
criada por Wolfgang von Kempelen, rodou as cortes da
Europa.
Outros criadores de autômato do século
XVIII incluem um francês prolífico chamado Pierre Jaquet-Droz e seu contemporâneo, Henri Mailardet.
Mailardet, um mecânico suíço, criou um autômato capaz de desenhar quatro
desenhos e escrever três poemas. Este autômato hoje faz parte das coleções do Instituto Franklin na Filadélfia.
O belga John Joseph Merlin criou o mecanismo do Cisne de prata,
agora no museu de Bowes. O Tigre de Tipu é um exemplo de um autômato construído
no final do século XVIII feito para o Sultão de Tipu, mostrando um soldado
europeu sendo atacado por um tigre.
De acordo com o filósofo Michel Foucault, Frederico o Grande, rei da Prússia durante
o período de 1740 a
1786, era “obcecado” pelo seu autômato. De
acordo com Manuel de Landa,
“Ele formatava seus exércitos como um mecanismo de relógio onde os componentes
eram guerreiros-robôs”.
O Japão adotou autômatos durante o período Edo (1603-1867); eles eram conhecidos como karakuri ningyō.
Autômatos, em particular relógios, foram
populares na China durante os séculos XVIII e XIX. Há um crescente interesse
por parte de colecionadores chineses no século XXI, o que levou muitos itens
interessantes a aparecer no mercado.
Autômatos
modernos
O famoso mágico Jean Eugène Robert-Houdin (1805-1871) ficou conhecido por criar
autômatos para suas performances. O período de 1860 a 1910 é conhecido como
"A Era de Ouro dos Autômatos". Durante este período, muitas pequenas
empresas dirigidas por famílias brilharam em Paris, enviando milhares de
autômatos-relógios e pássaros mecânicos cantantes para todo o mundo. Estes mecanismos
são hoje cobiçados por colecionadores, apesar de caros e raros. Os principais
vendedores franceses foram as empresas Vichy, Roullet & Decamps, Lambert,
Phalibois, Renou e Bontems. Os autômatos contemporâneos continuam sua tradição
de manter ênfase em sua arte, em detrimento de sofisticação tecnológica. Eles
hoje são representados pelos trabalhos do Teatro Mecânico Cabaret no Reino Unido,
Dug North e Chomick+Meder, Thomas Kuntz, Arthur Ganson, Joe Jones nos Estados Unidos, Le Défenseur du Temps pelo artista francês Jacques
Monestier, e François Junod na Suiça.
Alguns brinquedos mecânicos desenvolvidos
durante os séculos XVIII e XIX eram autômatos feitos de papel. Apesar da
relativa simplicidade do material, autômatos de papel requerem um grande nível
de genuidade mecânica.
Na
teoria da Computação
Formalmente, um autômato é definido como
sendo um modelo matemático de uma máquina de estados finitos.
Um autômato funciona como um reconhecedor de uma determinada linguagem e serve
para modelar uma máquina ou, se quiserem, um computador simples. É usado, por exemplo, em
editores de texto para reconhecer padrões. Um conceito fundamental nos
autômatos é o conceito de estado. Este conceito é aplicado a qualquer sistema,
por exemplo, à nossa televisão.
As noções de estado e sistema são tão onipresentes que foi desenvolvido um
campo de conhecimento chamado Teoria dos sistemas. Uma televisão pode estar
ligada(on) ou desligada(off), temos então um sistema com dois estados.
A um nível mais detalhado, podemos desejar
diferenciar os canais, caso em que podemos ter centenas de estados: um para desligada e os restantes significando ligada no canal N, existindo
sempre um número finito de estados. Dada uma televisão, ela não está apenas num
dos estados possíveis, somos capazes de fazer mudar a televisão de estado.
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