sábado, 11 de maio de 2013

Russo e o Cinema


Precisava sair do ar, me desligar de todas as conexões do mundo moderno, não queria conversar, falar. Queria paz, silêncio e solidão. Uma semana muito difícil, vivência de momentos difíceis. Resolvi exorcizar meus fantasmas no cinema. E o que escolher? Todos sabem que não sou muito fã de filmes nacionais mas a escolha era entre um blockbuster onde todos os ideais americanos seriam apresentados, como a redenção do moçinho depois ter passado o pão que o diabo amassou com a bandeira americana ao fundo ao sabor do vento ou o filme nacional de uma banda que fez história, não só na história, mas na minha história. Escolhi o filme nacional.
A banda era de uma época e fazia apologias que só hoje confesso que entendo de verdade, mas as musicas cativaram uma geração inteira de brasileiros com raras exceções.
Bom, já apresentado por alto o meu sentimento a banda, que garanto ser muito mais profundo que isso, vamos aos detalhes do ato em si:
Quando fui comprar os ingressos de um lado da fileira só havia dois lugares disponíveis. E foram esses que escolhi. Sentamos, eu e minha amiga e uma turma de colégio grande com a professora se sentou nas cadeiras do fundo, pensei isso não vai dar certo! Enganei-me, os alunos ficaram até que bem comportados, o que deixaria Renato decepcionado, pois a revolução pessoal era uma bandeira que empunhava com fervor. O pior estava ao meu redor...
Três garotos de seus 17, 18 anos duas meninas e um rapaz, se sentaram ao meu lado esquerdo, sacaram um pote de sorvete de um litro, sim, um pote de sorvete de um litro e com uma colher começaram a dividir, como se fosse um cigarro de maconha onde cada um dá um tapa e passa para o outro. Legal, eu nada tenho a ver com isso. Aí a coisa foi piorando. Pés de meias foram colocados nas cadeiras da frente, rebeldia nada tem a ver com falta de educação, estamos entendidos? E o mesmo pé que de vez em quando descia das costas da cadeira ia sempre aterrissar em cima do meu pé (ainda bem que só de meia). Quando no filme, Renato é diagnosticado em sua juventude com Epifiólise, no qual teve que colocar pinos de platina na bacia, o rapaz ao lado soltou uma dúvida que deveria ter ficado calada, mas para meu azar, não ficou. _Renato morreu de A) (H)emofilia? B) (H)emodiálise? C) Ah! Foi d(H)eAIDS. A cadeira que já tinha começado a esquentar para mim, já estava em brasas. Minha amiga, quando foi rir discretamente, virou o rosto para sua direita e viu um casal de meninas aos beijos. É, Vive La différence do mundo moderno. Aí o rapaz se sentindo completamente a vontade, depois do sorvete de um litro divido irmamente com suas amigas resolveu relaxar, deitou na cadeira a abriu suas assa, levando seu cotovelo direito até a minha costela esquerda (como diria o Claudio) voadora.
Coloquei gentilmente, o tão gentilmente que eu posso, a minha mão na junção dos três ossos que formam o cotovelo dele, junção essa do úmero (do braço) e do rádio e ulna (antebraço) no processo coronóide, fossa coronóide do braço do rapaz, bem na cabeça da ulna dele e disse em bom som: _ dá licença? E dei uma leve, tão leve como eu posso dar empurradinha no braço dele E assim as asas foram parcialmente fechadas.
Quando no filme, Renato inicia seus dilemas da bissexualidade que o acompanhou a vida toda, três garotas atrás de mim, emitiam Oh!s e Uh!s toda vez que Russo tocava em outro rapaz.
E isso é lá alguma novidade hoje em dia? Renato nunca escondeu suas opções, ir ver um filme sem ter a menor noção do que é, do que foi a pessoa ou a banda, é muito triste. Hoje em dia nesse nosso mundo interligado, com essa rede de informações a dispor, ser ignorante é um diferencial, é como disse um dia a Angélica no último programa que dela assisti. É Plus a mais. Então se você sai de casa, paga nem que seja meia entrada de um cinema, para ver um filme onde você não sabe nada, não entende nada e sequer quer entender, aconselho ter ido ver o blockbuster. Pelo menos, teria sido poupado de tentar formular qualquer tipo de pensamento que fosse. Pois blockbusters são para isso. Estímulos visuais e auditivos somente. Pensamento? Para que? Pensamentos geram questionamentos, que é o que parece que ninguém quer. Então se for assim, fique em casa, guarde seu dinheiro para cerveja da próxima balada.

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