CORPO MUMIFICADO
DA IMPERATRIZ DONA AMÉLIA DE LEUCHTENBERG
Pela primeira vez em quase 180 anos, os restos mortais do
primeiro imperador brasileiro, Dom Pedro I - alojados no Parque da
Independência, na zona sul da capital Paulista, desde 1972 - foram exumados
para estudos. Também foram abertas as urnas funerárias das duas mulheres de Dom
Pedro I: as imperatrizes Dona Leopoldina e Dona Amélia.
DONA AMÉLIA
Dom Pedro I casou-se
com Dona Amélia em 1829, três anos depois da morte de sua primeira mulher, Dona
Leopoldina. Por ter vivido pouco tempo no Brasil – cerca de 1 ano e meio –, é
uma personagem histórica pouco conhecida por aqui.
Nascida
Princesa Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais em Milão, à 31 de
julho de 1812, Princesa de Leuchtenberg, era a quarta filha do General Augusto
Beauharnais e da Princesa Augusta da Baviera. Seu pai era filho adotivo de
Napoleão Bonaparte e Vice-Rei da Itália, e sua mãe era filha do Rei Maximiliano
I José da Baviera e da Rainha Augusta, nascida Princesa de Hesse-Darmstadt.
Embora tivesse uma configuração familiar diferenciada, haja vista seu
parentesco próximo com Napoleão e a repulsa de todos por este, Dona Amélia
possuía em seu sangue as mais caras tradições, descendendo de grandes Famílias
Reais e Principescas. Hoje, 31 de julho de 2012, portanto, comemora-se seu
bicentenário de nascimento.
Em
1826, tendo falecido a Imperatriz Dona Leopoldina, Dom Pedro I achou por bem
casar-se novamente e incumbiu o Marquês de Barbacena para que buscasse esposa a
altura nos Reinos da Europa, observando nascimento, beleza, virtude e cultura.
A Princesa Amélia de Leuchtenberg era reconhecida por todos estes requisitos,
além da refinada educação e dos mais belos modos. O jornal London Times, a época do
casamento, publicou que ela era umas das Princesas mais bem educadas e
preparadas da Alemanha.
O
casamento foi arranjado. A convenção matrimonial foi assinada na Inglaterra em
30 de maio de 1829, ratificada em 30 de junho, em Munique. Em 30 de
julho daquele ano, foi confirmado, no Brasil, o tratado do casamento de Sua
Majestade com a Princesa Amélia de Leuchtenberg. Ao confirmar-se o casamento,
Dom Pedro I instituiu a Ordem da Rosa, cujo lema é "Amor e
Fidelidade". A cerimônia do casamento foi realizada por procuração em
Munique, na capela do Palácio de Leuchtenberg, a 2 de agosto daquele ano. Dom
Pedro I havia enviado a sua representação legal em Munique, uma considerável
quantia para que se fizesse um casamento que condissesse com a situação dos
noivos, porem Dona Amélia insistiu em doar a um orfanato de Munique a
apreciável quantia enviada por Dom Pedro I, fazendo-se uma cerimônia simples. Durante sua viagem ao Brasil,
trazendo uma comitiva, Dona Amélia incumbiu aos presentes que lhe instruíssem
sobre o novo país, o marido, a língua portuguesa, os costumes e tradições
brasileiras.
Dona
Amélia chegou a Brasil em 15 de outubro de 1829, na fragata Imperatriz, vinda da Bélgica e
que trazia também a Princesa Dona Maria da Glória vinda da Inglaterra, por
motivos de segurança, pois seu tio, Dom Miguel havia lhe usurpado o Trono de
Portugal. Ainda no dia de sua chegada ao Rio de Janeiro, Dona Amélia recebeu a
bordo além do marido, os filhos do primeiro casamento deste, a quem recebeu com
muito carinho e amor filial. No dia seguinte, com forte chuva, Dona Amélia fez
o desembarque e foi calorosamente recebida com grande procissão, rumando para a
Capela Imperial, para receberem as bênçãos nupciais. A delicadeza de modos e
educação da noiva deixou a todos com muito boas impressões. Dona Amélia
compareceu aquelas cerimônias com um fino vestido branco e um manto bordado em
prata que lhe serviam para reforçar sua beleza. Seguindo a celebrações
religiosas, houve uma cerimônia pública e todos foram convidados a se servirem
no grande banquete de Estado. Somente em janeiro de 1830 o Imperado r ofereceu
um grande baile para apresentação oficial da Imperatriz à Corte. Depois do
baile o casal passou cerca de um mês em lua de mel na Fazenda do Padre Correa,
na antiga Serra da Estela, onde então seria, alguns anos mais tarde, erguida a
cidade de Petrópolis.
Os anos
que se seguiram no Brasil, pouco mais de 2, foram de intenso trabalho para a
Imperatriz. Dona Leopoldina havia falecido e o palácio se encontrava sobre as
ordens das damas da Corte, não possuindo o brilho e a pompa de antes. Os
pequenos Príncipes estavam sendo educados sem a vigilância de seus pais, haja
vista as funções do pai como Imperador do Brasil. Dona Amélia foi responsável
por modernizar, trazer a pompa e a circunstância próprias a um Palácio Imperial
à Quinta da Boa Vista. Quanto as crianças, Dona Amélia as tratou como
verdadeira mãe, cumprindo seu valoroso papel, cuidando pessoalmente da educação
das Princesas. O ambiente familiar voltou a Quinta.
Em
1831, Dom Pedro I abdicou o Trono em favor de seu filho, o futuro Imperador Dom
Pedro II, ocasião em que a Imperatriz, tendo que deixar o pequeno Dom Pedro no
Brasil, suplicou as mães brasileiras: “Mães brasileiras, vós que sois meigas e
carinhosas para com vossos filhinhos, supri minhas vezes: adotai o órfão
coroado, dai-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração.
Entregando-o a vós, sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura”. A
Imperatriz Dona Amélia seguiu com o marido para a Europa, onde este empreendeu
uma guerra civil contra o usurpador Dom Miguel. Em Paris Dona Amélia
deu a luz a Princesa Dona Maria Amélia e, ali fixando residência, educou a
Princesa Dona Maria da Glória até que fosse coroada Rainha de Portugal, bem
como a filha reconhecida de Dom Pedro I, Dona Isabel Maria, Duquesa de Goiás, a
que também teve a incumbência de educar, casando-a com um nobre alemão.
Vencido
o usurpador Dom Miguel, Dona Maria da Gloria foi reconhecida como legítima
Rainha de Portugal e Dom Pedro I – na ocasião - Duque de Bragança, acompanhado
da Família, foi viver em Portugal, primeiramente na Quinta do Ramalhão e depois
no Palácio Real de Queluz, onde então Dom Pedro I faleceu de tuberculose a 24
de setembro de 1834.
De 1834
em diante, ou seja, até a data de sua morte, Dona Amélia dedicou-se a caridade
e as orações. Parte de seu tempo era tomado pela educação da filha Dona Maria
Amélia. Dona Amélia passou a requisitar por parte do governo brasileiro a
pertença de sua filha a Família Imperial do Brasil, sendo reconhecida como tal
em 1841, na maioridade do Imperador Dom Pedro II. Privada das liberdades
outrora abundantes, bem como das felicidades que se tinha com o marido, o
destino se encarregou a 4 de fevereiro de 1853 de lhe levar seu maior bem, a
filha Dona Maria Amélia. Morta nas mesmas condições do pai, era desfecho que
uma longa luta que a levou para ao Funchal, onde permaneceram por considerável
tempo, na busca pelo tratamento, porem nada adiantou.
Dona Maria Amélia, então
com 22 anos de idade estava se encaminhando para um casamento com o futuro
Imperador do México Maximiliano, que a ela devotava grande amor e que jamais a
esqueceria.
Maria Amélia Augusta Eugénia Josefina Luísa Teodolinda Heloísa Francisca Xavier de Paula Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga e Fernando Maximiliano José de Habsburgo-Lorena
No Funchal, Dona Amélia, em memória de sua filha, fundou um
hospital para o tratamento de pessoas tuberculosas na Ilha da Madeira, “o
Hospício Princesa Dona Maria Amélia”, mantido até os dias de hoje com recursos
de descendentes de sua Família, no caso atual, da Família Real da Suécia,
descendente de sua irmã, a quem deixou em testamento esta incumbência.
De
volta a Lisboa, morando então no Palácio das Janelas Verdes, faleceu em 26 de
janeiro de 1876, deixando expressamente em seu testamento a vontade de que
retornasse ao Brasil todos os documentos e objetos referentes ao país. Ao Príncipe
Maximiliano, deixou uma propriedade na Baviera e à sua irmã, a Rainha da
Bélgica, responsável por manter vivas as suas obras de caridade, deixou joias,
dinheiro e a Tiara Bragança.
Dona
Amélia foi sepultada em
São Vicente de Fora, de onde foi transladada para o Brasil em
1982, estando atualmente sepultada na Capela Imperial do Monumento a
Independência, em São Paulo.
Em 31
de julho de 2012, celebrou-se o bicentenário de nascimento da Imperatriz Dona
Amélia, esta grande Dama que em pouco tempo foi responsável por orientar a
educação de nosso futuro Imperador Dom Pedro II, influenciando nos destinos do
país nos longos anos de reinando deu filho postiço. Foi Dona Amélia uma grande
mulher de seu tempo. Forte em sua personalidade, piedosa, amorosa e caridosa.
Em sua vida, marcada pelas tristezas, não se pode lembrar da amargura e do
rancor.
Sobre
Dona Amélia, Dom José Palmeiro Mendes, Abade Emérito do Mosteiro de São Bento
do Rio de Janeiro, em sua homilia, no dia 17 de outubro de 2009, em missa na
Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé Catedral, antiga Capela Imperial,
onde foi oficiado o casamento da Imperatriz com o Imperador, e onde este
religioso celebrava a missa de ação de graças pelos 180 anos deste casamento,
afirmou: “Sobre Dona Amélia, tem que se reconhecer que humanamente ela levou
uma vida de muitos sofrimentos. Com 11 anos perdeu o pai; imperatriz do Brasil
por ocasião do casamento, perde este título com a abdicação do marido três anos
depois; passa um largo tempo exilada e longe do marido, só indo com ele
encontrar-se em 1833. No ano seguinte perde o esposo amado (viúva com apenas 22
anos) e poucos meses depois o irmão, o príncipe Augusto, que tinha casado com
D. Maria II. Verifica-se um estremecimento de relações com a enteada rainha.
Vive para a filha Maria Amélia, princesa belíssima e prendada, mas de 1850 a 1853 acompanha a
lenta e implacável doença da filha, que morre com edificante piedade cristã na
ilha da Madeira com apenas 21 anos. No mesmo ano morre D. Maria II. Fica Dona
Amélia muito ligada ao neto, o rei D. Pedro V e sua esposa D. Estefânia, mas
ambos tem morte prematura. Sua profunda fé cristã porém sempre a acompanhou.
Dedicava-se muito a obras de caridade. Viveu retirada no chamado Paço das
Janelas Verdes, em Lisboa, que tinha mais de convento religioso do que de
palácio real. Ali vai receber a visita do conde d´Eu a caminho do Brasil, onde
casará com a Princesa Imperial; ali depois recebeu a neta Dona Isabel em viagem
de núpcias e enfim, em 1871 o filho Dom Pedro II, com quem sempre se
correspondia. Cercada de meia dúzia de incansáveis amigos, ali morre no início
de 1873. Será sepultada no Panteon da Casa de Bragança na Igreja de São Vicente
de Fora, ao lado de D. Pedro I. Desde 1982 seus restos repousam no Brasil, no Monumento
do Ipiranga, em S. Paulo ,
junto aos de D. Pedro I e de D. Leopoldina.”
No dia
31 de julho de 2012, serão oferecidos jantares em comemoração ao bicentenário
da Imperatriz Dona Amélia. Em
São Paulo o jantar ocorrerá ás 19h45 no Restaurante Monet, à
Rua Fradique Coutinho, 37 – Pinheiros. No Rio de Janeiro, o evento será
realizado às 19h30min no
Restaurante Siqueira Grill, à Rua
Siqueira Campos, 16-b, Copacabana, ocasião em que o Professor Otto de Alencar
de Sá Pereira dará palestra como o título “Dona Amélia, a Imperatriz da Rosa”.
No caso da segunda
mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia de Leuchtenberg, a descoberta mais
surpreendente veio antes ainda de que fosse levada ao hospital: ao abrir o
caixão, a arqueóloga descobriu que a imperatriz está mumificada, fato que até
hoje era desconhecido em sua biografia. O corpo da imperatriz, embora
enegrecido, está preservado, inclusive cabelos, unhas e cílios. Entre as mãos
de pele intacta, ela segura um crucifixo de madeira e metal.
Nem os descendentes da família imperial imaginavam que Dona Amélia, estava
mumificada. Para os médicos envolvidos na pesquisa, o fato de ela ter os órgãos
preservados abre várias possibilidades de estudo.
Uma das principais
revelações do estudo arqueológico nas figuras históricas foi o fato de que D.
Amélia de Leuchetenberg, segunda mulher de D. Pedro I, foi mumificada - um dado
até aqui desconhecido de sua biografia. A imperatriz, que morreu em Lisboa em
1876 e cujos restos mortais foram trazidos à cripta do Ipiranga em 1982,
conserva pele e órgãos internos intactos. Cabelos, cílios, unhas, globos
oculares e órgãos como o útero estão preservados. "É uma das múmias em
melhor estado de conservação já encontradas no País. Agora, precisamos
pesquisar para entender exatamente por que ela ficou assim e, mais importante
ainda, compreender melhor quem foi essa mulher, uma imperatriz esquecida na
História do Brasil", diz a arqueóloga Valdirene Ambiel, responsável pelas
pesquisas na cripta do Ipiranga. "Quando a trouxeram à cripta, em 1982,
dizia-se que ela estava 'preservada', mas ninguém sabia que poderia ser
considerada múmia." As causas exatas da mumificação de D. Amélia ainda
estão sendo investigadas - não era comum entre a nobreza de Portugal que
mulheres recebessem tratamento para ficarem preservadas. "Pode ter sido um
'acidente de percurso'. Ela foi tratada para ficar conservada alguns dias, para
o funeral, e isso acabou inibindo o processo de decomposição", diz
Valdirene. Os exames no Hospital das Clínicas revelaram uma incisão na jugular
da imperatriz. Por ali, foram injetados aromáticos como cânfora e mirra.
"No caso de D. Amélia, havia um forte odor de cânfora quando abrimos o
caixão. Certamente, ajudou a anular o processo de decomposição." Também
contribuiu para a mumificação, segundo a pesquisadora, a ausência de fatores
para a decomposição. "A urna foi tão hermeticamente lacrada que não
havia microrganismos para realizar a decomposição.
Tomografias
É irônico que tenha
acontecido justamente com Amélia, que pediu expressamente um funeral simples,
nos quais não se costumava preparar os mortos para preservação", explica
Valdirene, referindo-se ao testamento de Amélia de Leuchtemberg, no qual consta
o pedido de um funeral sem ostentações. O documento, porém, só foi lido após o
enterro, quando a mumificação já havia sido preparada. Após passar pelo
aparelho de tomografia do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas e de
receber uma biópsia, a imperatriz foi "remumificada" - ela recebeu
novo processo de embalsamamento, semelhante ao qual havia passado 136 anos antes.
Valdirene também foi a responsável por preparar e aplicar na múmia uma solução
semelhante à usada em Portugal no século 18 (500g de naftalina, 500g de
cânfora, 300g de manganato de potássio, 2,5 litros de álcool a
92%, 2 litros
de formol e 500g de timol). Com gaze e algodão, passou a mistura em todas as
partes visíveis da imperatriz - face, pés, mãos e pescoço. "Também
passamos a solução nas laterais do corpo preservado, para que receba o
tratamento por absorção. Nas costas ficou do jeito que estava, já que não
podíamos levantá-la do caixão", conta a arqueóloga. Com a descoberta, o
caixão de D. Amélia recebeu um visor de vidro, que permitirá - apenas a
pesquisadores - observar seu estado de conservação. No plano que apresentou à
Prefeitura, Valdirene se propõe a fazer visitas semanais à cripta, para checar
a preservação da múmia. "Faz parte do projeto de preservação dos restos
mortais da família imperial. Precisamos tomar conta das descobertas", diz.
O Estado acompanha os estudos de Valdirene
desde 2010, quando a historiadora e arqueóloga conseguiu autorização dos
descendentes da família imperial para exumar os restos mortais dos personagens
históricos
Fonte: Estadao.com.br
Fotos: Victor Hugo Mori
Formatação: Helio Rubiales
Fonte: Estadao.com.br
Fotos: Victor Hugo Mori
Formatação: Helio Rubiales
Reportagem: Edison
Veiga e Vitor Hugo Brandalise / Infografia: Eduardo Asta e Rubens Paiva /
Desenvolvimento: Carol Rozendo / Webdesign: Alex Koti / Modelagem 3D: Jonatan
Sarmento / Infográfico multimídia produzido a partir de informações do estudo
de mestrado desenvolvido pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo
Ambiel
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Parte da pesquisa e formatação: Janette Tamburro
“Dona Amélia, a Imperatriz da Rosa”
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