sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O cheiro do desejo

 
"As pessoas são um cheiro.
É pelo cheiro que as catalogamos no íntimo arquivo dos desejos.
A que cheira um amante? Uma rosa cheira a rosa. Um cravo cheira a cravo. Não sei a que cheira uma orquídea. Mas sei que todas as orquídeas cheiram igual. Já os amantes, ah!, nenhum repete o cheiro. Os que nos refrescam têm cheiro de rio, os que nos enchem têm cheiro de mar.
Todas os apaixonados têm um cheiro úmido. Como a boca. Como o sexo.
Só gostamos de uma pessoa quando gostamos do seu cheiro. Quando tudo nos leva a bebe-la, como um chá quente, excitante, aromático. Se não gostarmos do seu cheiro não conseguimos ama-la, nem na pele nem na alma. Podemos ser amigos, companheiros, nunca amantes. Amar é beber um cheiro. É transporta-lo para dentro de nós.
E nós só amamos verdadeiramente uma pessoa quando cheiramos seu cheiro.."


* do escritor português João Morgado, no livro Diário dos Infiéis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário