sexta-feira, 22 de maio de 2009

Livro - Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira

Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira
Jardins tais como os da Regaleira existiram ou existem um pouco por toda essa Europa, decifráveis pela forma, o simbolismo e os objectos. Estes jardins aparecem como a outra face do Paraíso ou como itinerário que nos conduz ao paraíso: jardim como espaço sagrado, morada de deuses, centro do Mundo, um nexo lógico do mundo superior com o mundo inferior.
A Quinta da Regaleira, em Sintra, atrai os estudiosos pela maçonaria, templarismo, esoterismo e ocultismo. Seguramente que o seu principal investigador é José Manuel Anes que acaba de compilar e adensar os estudos que tem vindo a efectuar nos últimos 15 anos, incluindo os novos estudos sobre os jardins iniciáticos. (“Os Jardins Iniciáticos da Quinta da Regaleira” por João Manuel Anes, Ésquilo, 2005).O visitante desacautelado que percorre a quinta, palácio, capela e os seus jardins, se bem que possa ficar impressionado pela articulação entre a arquitectura e a paisagem, não deixa de questionar as excentricidades e encenação do tipo “fim de século” que o seu proprietário nos legou. A obra do Professor Anes e outros tem sido a de descodificar os temas simbólicos e míticos da quinta, comentar o que terá sido o percurso iniciático e o neo-templarismo maçónico gizado pelo “Carvalho dos Milhões”, à procura da chave para o mistério que se deve considerar longe de estar esclarecido quanto à mensagem mítica e mística que passou à posteridade, e que está guardada no interior da quinta.A visita ao conjunto da Regaleira permite duas leituras: a sumária, que é do gigantismo neomanuelino, com múltiplos e diversos elementos kitsch, traduzidos por grutas, poços, lagos, torres e galerias subterrâneas; a complexa, que é procurar decifrar o simbólico, o iniciático e o esotérico escritos na pedra e artes decorativas. Pouco se sabendo sobre as leituras e a estrutura cultural de António Carvalho Monteiro, não sendo conhecida a sua correspondência com o responsável pela construção, o arquitecto italiano Luigi Manini, as investigações apontam para, a coberto do revivalismo, estarmos face a uma enciclopédia do simbolismo iniciático, uma organização do universo pagão, culto do Espírito Santo, e de temas templários com raiz maçónica. Do paganismo o autor remete-nos para o Patamar dos Deuses, a Casa Egípcia, a Gruta de Leda e o Terraço dos Mundos Celestes, seguramente espaços que o visitante percorre com um misto de curiosidade e de perplexidade face à discrepância arquitectónica com o Palácio e a própria capela. Os temas herméticos e alquímicos, se bem evidentes no poço iniciático, são também uma das principais atracções no percurso dos jardins. A capela, segundo o autor, presta-se ao confronto entre a simbologia cristã, a maçonaria escocesa e o culto popular do Espírito Santo. Finalmente, os temas templários são profusos e inequívocos: caso da cruz templária no fundo do poço iniciático, as cruzes teutónicas, tal como existem nos ritos templário-maçónicos, o delta radiante na Igreja.O visitante é alertado para estas situações durante a visita, se bem que fique em aberto qual a coesão e organicidade destes tipos de mensagens. Sabe-se da formação política conservadora do proprietário, da sua atracção pela mitologia sebastiânica, mas está longe de se saber se estava reservado para a quinta o papel do local e do encontro místico ou de grande mensagem para os que procuram os ritos iniciáticos.Jardins tais como os da Regaleira existiram ou existem um pouco por toda essa Europa, decifráveis pela forma, o simbolismo e os objectos. Estes jardins aparecem como a outra face do Paraíso ou como itinerário que nos conduz ao paraíso: jardim como espaço sagrado, morada de deuses, centro do Mundo, um nexo lógico do mundo superior com o mundo inferior.E, por isso, por baixo dos jardins, temos as cavernas celestiais e a viagem pelos mundos subterrâneos: só se atinge o Céu passando pelo Inferno, é a iniciação que permite aceder ao mundo superior.Temos pois, segundo o autor, a leitura da Quinta da Regaleira como percurso iniciático e mistérico: o Patamar dos Deuses que nos remete para as religiões de mistério, alquimia e o rosacricianismo; no Palácio, esses elementos combinam-se entre a mística e o mito, a memória da História de Portugal e a passagem das trevas para a luz; também o poço iniciático é uma boda alquímica entre a matéria e o espírito, completado com a gruta de Leda e a capela templária.Síntese entre o cristianismo e o paganismo, dispondo, a justo título de um jardim iniciático, encenada entre o culto das religiões de mistérios e o cristianismo, atenta às indicações maçónicas e à Ordem de Cristo, a Regaleira é um lugar mágico, é património cultural e um dos mais elucidativos repositórios das tradições da espiritualidade e da cultura ocidentais.Quanto ao fulcro da mensagem, o leitor que procure ir mais longe se tiver gosto. De resto, a visita é tão deslumbrante, a dimensão espiritual tão presente, a arquitectura tão poderosa e os jardins tão deslumbrantes, que o lazer cultural pode ficar por aqui.

Para mais consultas sobre a Quinta da Regaleira, ver o site:http://images.google.pt/images?q=Quinta+da+Regaleira&hl=pt-PT&btnG=Procurar+imagens


Resenha de: Beja Santos

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